Chamada de “torcida de teatro” pelo rival neste domingo, a do Flamengo saiu do Maracanã em festa com uma atuação de cinema na goleada por 6 a 1 sobre o Vasco. Um jogo que entra para história, consolida um novo time e reaproxima um ídolo que teve a relação com os rubro-negros arranhada por um erro. Sorte dele é que sua predestinação entrou em campo.
Everton Cebolinha, Pedro, David Luiz, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol fizeram os gols. Os autores representam a conexão de uma geração histórica com uma nova equipe que ganha identidade. Tite encontrou a formação ideal, mas a Copa América obrigará o treinador a se readaptar.
O Flamengo começou errando bastante e logo tomou um susto por mérito de Vegetti, que emendou um belo voleio. Os rubro-negros não se abalaram e partiram para encarar um Vasco que defendia com linha de cinco. Enquanto se recompunha do golpe, o time de Tite até viu os adversários chegarem duas vezes, mas depois dominou inteiramente seu adversário.
Arrascaeta, que não vinha bem nos últimos jogos, comandava o meio, enquanto Everton Cebolinha se preparava para virar o protagonista da equipe.
Dos pés do camisa 14, após um bate-rebate, a bola foi amortecida para Cebolinha empatar. Arrasca não participava de um gol havia 11 jogos e voltou a fazer o que mais sabe: dar assistência, a 84ª dele com a camisa do Flamengo.
Everton Cebolinha resolveu aparecer. Tentou um gol do meio-campo, e o goleiro Léo Jardim ironizou a ousadia com uma matada no peito. Setenta e nove segundos depois, o 11 do Flamengo respondeu com arte. Gingou diante de Lucas Piton e, por ironia do destino, cruzou na medida para Pedro, com o peito, empurrar a bola para o fundo da rede.
David Luiz fez um bonito gol de esquerda no fim da etapa. Adivinha quem deu o passe? Cebolinha, que bateu o escanteio com veneno.
Para completar o primeiro tempo dos sonhos para os rubro-negros, João Victor cometeu falta violenta em De la Cruz e – após intervenção do VAR – foi expulso.
Um amasso rubro-negro: 65% de posse de bola e um placar de 13 a 2 nas finalizações.
Show de Arrascaeta na etapa final
O primeiro lance do segundo tempo foi o prenúncio do show. Viña roubou bola, fez fila e tabelou com Arrascaeta e Pedro. Por pouco não entrou na área em condição de chute. Aos cinco minutos, Everton Cebolinha desarmou Puma, aplicou-lhe dois dribles desconcertantes, fingindo que ia para um lado e saiu para o outro. A torcida começou a gritar nesse momento: “Mais um, mais um”.
Trinta segundos após Cebolinha bailar, mais um belo gol. Léo Jardim espanou, Fabrício Bruno rebateu de cabeça, Gerson tocou de primeira, e Pedro, também num toque só, deu lindo passe para Arrascaeta, que, no timing certo, resistiu ao puxão de Léo Pelé, sustentou e marcou um golaço.
Se Pedro, Cebolinha e David Luiz, referências técnicas de um novo Flamengo que se constrói, foram os caras do primeiro tempo, coube aos heróis de 2019 cravarem os números que tornaram esse 2 de junho de 2024 histórico.
Goleadas com quatro gols marcados o Flamengo já havia feito três vezes nas últimas décadas, um 4×0 em 2000, um 4×1 em 2019 e outro 4×1 no ano passado. Faltava pagar uma dívida com os rubro-negros. A torcida queria o troco daqueles chocolates sofridos diante do Vasco em 2000 e 2001, ambos com 5×1 e show de Romário.
O quinto foi cinematográfico. Arrascaeta mostrou por que aquela geração de 2019 ainda é útil ao Flamengo de hoje. Girou de forma fantástica diante de Galdames, conduziu, tirou Maicon e rolou para Bruno Henrique bater na bochecha da rede. Absoluto cinema.
Predestinado a fazer história
Mas a história tinha que guardar algo para o predestinado. Cebolinha foi sensacional no primeiro tempo, Arrascaeta deu show no segundo, e Pedro deu provas de que é um dos melhores atacantes do Brasil. Faltava o dele. Você sabe quem é.
Entrou aos 33 minutos da etapa final. Foi vaiado, xingado e ouviu que o Flamengo não precisava dele. Críticas merecidas, ele pisou na bola. Não participava muito do jogo, até a vocação para ser eterno bater em seu ombro e falar: “Vem cá fazer história”.
Novamente aos 43 minutos do segundo tempo – ô número identificado com o vermelho e preto – aqueles mesmos em que Petkovic se consagrou contra o Vasco e nos quais o próprio Gabigol empatou a decisão da Libertadores de 2019, o destino reencontrou o agora camisa 99.
Arrascaeta, um dos craques do jogo tocou na frente, Luiz Araújo esticou no fundo de calcanhar, e Wesley surgiu para cruzar. Gabi ganhou as costas de Maicon e voltou a ser gol. Gabigol.
Gabigol fazia as pazes com as redes após quase quatro meses sem marcar – o último havia sido anotado em 10 de fevereiro. E escrevia mais uma vez seu nome na história do Flamengo. É dele o gol que garantiu ao clube sua maior goleada no Clássico dos Milhões. O maior placar do confronto na história do Campeonato Brasileiro.
Um espetáculo que é do novo Flamengo, de Pedro, David Luiz e Cebolinha. É também do vitorioso Flamengo de 2019 de Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol. É histórico e de cinema, não de teatro. O líder do campeonato atropelou seu rival, com 67% de posse de bola e um número de finalizações 14 vezes maior (28 a 2).
Com direito a olé e gols para todos os gostos, o eterno 2 de junho de 2024 vira data obrigatória no calendário de todo rubro-negro./ge
(Foto reprodução)